quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Como comparar a rentabilidade de investimentos diferentes?

Como alguém escolhe se deve investir em investimentos tão diferentes quanto renda fixa, em imóveis ou o mercado de ações? É possível comparar arentabilidade de ativos tão distintos? Ou as características de cada investimento são tão diferentes que se torna impossível compará-los? Nesse post, examinarei essas questões.
Rentabilidade

O que são investimentos?

Já parto, desde o início, de uma premissa: sim, é possível comparar a rentabilidadede investimentos tão diferentes quanto imóveis, tesouro direto e renda fixa. Por quê? Porque, basicamente – seguindo a lição deixada por Benjamin Graham – o objetivo de qualquer investimento é oferecer “promessa de segurança do principal e um retorno adequado. Operações que não satisfaçam esses requerimentos são especulativas”.
Portanto, só podemos chamar de investimento classes de ativos que oferecem duas coisas básicas: (1) assegurar a proteção do capital investido e (2) promover um retorno adequado. Qualquer ativo que não satisfaça essas condições pode ser caracterizado como especulação, não como investimento.
Dessa definição, podemos desde logo extrair a seguinte consequência: ativos com preços muito elevados são especulativos, porque (1) não asseguram a proteção do capital investido nem (2) promovem um retorno adequado. Por isso, comprar ações ou imóveis por preço elevado demais se qualifica, em princípio, como operação especulativa por natureza, porque apenas em circunstâncias excepcionais o retorno seria adequado.
Dito isso, é possível, sim, comparar a rentabilidade de investimentos de classes distintas. A melhor maneira de fazer isso é deixar de lado o valor nominal do ativo e se concentrar nos frutos que ele gera.
E ativos diferentes geram frutos diferentes:
Renda fixa paga juros
Ações geram lucros 
Imóveis geram aluguel
Para comparar a rentabilidade de investimentos diferentes, portanto, é preciso comparar a expectativa realista dos frutos que cada ativo gera e tem perspectiva de gerar no futuro próximo.

Como comparar a rentabilidade de investimentos diversos?

Pra deixar a conversa menos abstrata, façamos alguns exercícios concretos: digamos que você esteja na dúvida entre comprar um apartamento para alugar ou adquirir um título do tesouro direto. O apartamento custa R$ 800.000 e pode ser alugado mensalmente por R$ 2.500 – ou R$ 30.000 por ano. Isso significa dizer que a rentabilidade dele é de 3,75% ao ano. Fazer a conta é simples: basta dividir o valor total recebido em aluguéis (R$ 30.000) ao longo de um ano pelo valor de custo do apartamento (R$ 800.000).
O título do tesouro direto, contudo, oferece como rentabilidade hipotética 9% ao ano, já líquido de impostos. Qual seria a melhor alternativa? Comparando-se a rentabilidade, temos que a renda fixa seria mais atraente que os imóveis.
Mas aí vem a dúvida: “peraí, Fábio: mas e se o preço dos imóveis continuar a crescer? Não teria sido melhor investir neles?” A questão é bastante pertinente.
Voltemos à definição de Graham: investimento é o que oferece a segurança do principal e um retorno adequado. O retorno do imóvel não é adequado, pois rende quase um terço de uma alternativa segura como o tesouro direto. E esse retorno pequeno indica, ainda, que também oferece pouca segurança do principal. Com um rendimento tão baixo, há grandes chances de o preço estar muito acima do valor justo – ou seja, a chance de uma queda no valor do imóvel, ou no mínimo de sua estabilização ao longo de muito tempo, é alta.
O cálculo da rentabilidade das ações demanda abordagem um pouco distinta, que depende de sua abordagem de investimentos. Se você for conservador, calcule o rendimento a partir dos dividendos. Se você for mais arrojado, calcule o rendimento a partir do lucro.
Para calcular o rendimento a partir do dividendo, use o dividend yield, que é o indicador que apresenta o rendimento da ação a partir dos dividendos pagos nos últimos 12 meses. Por exemplo, se a ação custa R$ 5,00 e pagou R$ 0,20 por ação em dividendos, o dividend yield é de 5%.
Sendo um investidor mais arrojado, você pode utilizar o lucro como indicador do rendimento da ação. Pra voltar ao exemplo anterior: se a ação custa R$ 5,00 e o lucro por ação foi de R$ 0,75, seu earnings yield é de 15% – ou seja, o lucro equivale a 15% do valor da cotação da ação. É com base nesse indicador que Warren Buffett, por exemplo, diz que as ações são equity bonds parecidos com títulos de renda fixa.
Novamente, é importante não se concentrar no valor nominal do ativo. Uma queda no preço das ações, assim como acontece no tesouro direto, pode significar aumento do seu valor real por meio do aumento de sua rentabilidade. No caso do exemplo anterior: se o lucro por ação foi de R$ 0,75 e o preço caiu de R$ 5,00 (15% de rentabilidade) para R$ 4,50, sua rentabilidade subiu de 15% para 16,67%.
Nesse caso, teríamos as seguintes hierarquias de rentabilidade:
a) O investidor conservador teria em primeiro lugar os títulos do tesouro direto, com rentabilidade de 9% ao ano; em segundo lugar, as ações, com rentabilidade (dividend yield) de 5% ao ano; e o imóvel em terceiro lugar, com rentabilidade de 3,75% ao ano.
b) O investidor arrojado teria em primeiro lugar as ações, com rentabilidade (earnings yield) de 15% ao ano; em segundo lugar os títulos do tesouro e, em terceiro lugar, o imóvel.
Perceba que não há, aqui, um viés a favor de qualquer tipo de investimento. É perfeitamente possível que haja imóveis com rentabilidade maior (desde que o aluguel perfaça percentual maior do valor do imóvel), títulos do tesouro direto com rentabilidade menor (em momentos de baixa na Selic) e ações com rentabilidade pífia (P/L altíssimo). Cada caso é um caso no mundo dos investimentos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sou iniciante e quero começar a investir. Como montar minha carteira?

Por  - O pequeno Investidor
O começo de uma carteira de investimentos é, provavelmente, a etapa mais difícil da estrada que leva à construção da independência financeira. Com pouca experiência e conhecimento mínimo, é natural sentir insegurança. Mas, seguindo alguns princípios, é possível deixar isso tudo de lado e organizar uma carteira de investimentos segura e rentável.

Princípios básicos para montar uma carteira de investimentos sem conhecimento financeiro

Investir não é difícil. Ser um especialista de fato exige ler bastante e ter conhecimentos muito específicos, mas a verdade é que qualquer um pode montar uma boa carteira de investimentos. Basta seguir princípios bastante simples.
1. Diversificar é a palavra de ordem
O primeiro princípio é simples: DIVERSIFIQUE. Se você é iniciante, não tem conhecimentos nem experiência. Logo, não aposte em uma classe específica de investimentos. Por quê? Porque você não tem experiência, nem conhecimento, e não tem como saber qual é o melhor investimento de todos. Aliás, mesmo que já tivesse experiência, seria bom diversificar e fazer alocação de ativos. Sem experiência e conhecimento, não diversificar é assumir um risco muito grande.
Imagina o que pode acontecer se você resolver investir todo seu patrimônio em ações e precisar do dinheiro justamente em um momento de baixa! Exatamente para evitar isso, é importante diversificar – até porque a diversificação possibilita que momentos de crise em mercados voláteis como a bolsa de valores se transformem em oportunidade. Nesses momentos, é possível vender um pouco de investimentos mais estáveis (como renda fixa) para comprar ações a preços mais baixos.
Se você desobedecer esse princípio, invista em renda fixa de curto prazo 
Mas, se você decidir desobedecer esse princípio, invista exclusivamente em títulos de renda fixa de curto prazo. É uma alternativa ruim – péssima -, mas é muito melhor do que arriscar seu dinheiro no cassino de títulos de longo prazo, em fundos de investimento imobiliário ou no mercado de ações.
Além disso, investidores iniciantes tendem a se desesperar fácil com a volatilidade típica da renda fixa de longo prazo ou de outros investimentos, e acabam vendendo suas posições nos piores momentos possíveis. Na renda fixa de curto prazo, esse problema não existe – mas a rentabilidade é bastante inferior.
O que entra no conceito de renda fixa de curto prazo? Basicamente, poupança, CDB, LCA, LCI, Fundos DI e LFTs (Tesouro Direto).
2. Foco é de longo prazo… sem deixar o presente de lado
O segundo princípio diz respeito ao foco dos seus investimentos. Qualquer pessoa,iniciante ou não, deve ter por objetivo investir para o longo prazo. A exceção, é claro, diz respeito às pessoas que não têm horizonte de longo prazo pela frente, por já terem idade avançada, ou pessoas que não podem investir no momento porque precisam gastar o dinheiro para investir em suas carreiras a fim de gerar renda maior no futuro.
Os outros mortais que querem construir um patrimônio financeiro significativo devem ter o objetivo de investir para o longo prazo. Esqueça fórmulas mágicas para enriquecer rápido, ou metas mirabolantes de rentabilidade alta, de 4%, 5% ao mês. O caminho mais seguro é o mais chato, e é de longo prazo. Prepare-se para correr uma maratona, não uma corrida de 100 m rasos.
Mas você não pode deixar de pensar no curto prazo. Mesmo com foco no longo prazo, é possível que surpresas desagradáveis aconteçam e você precise de dinheiro para emergências. Por isso, é importante separar uma parte dos seus investimentos para essas ocasiões, aplicada em títulos de curto prazo – novamente, poupança, CDB, LCA, LCI, Fundos DI e LFTs (Tesouro Direto).
3. Invista aos poucos
Não pense que a fórmula do sucesso é investir uma quantidade enorme de dinheiro de uma vez. Esse é um erro que muitos cometem, e acabam deixando de investir porque nunca conseguem acumular o que julgam suficiente para investir.
A maior parte dos ativos permite investimentos pontuais e de valor relativamente pequeno. Além disso, essa estratégia torna você mais preparado para momentos de volatilidade. Ao investir aos poucos, o impacto das altas e baixas de investimentos mais voláteis não é sentido de maneira brusca, de forma que isso ajuda a preparar seu lado psicológico para enfrentar, no futuro, momentos difíceis com um patrimônio maior investido.
4. Não é pecado investir por meio de fundos
Fundos de investimento podem ser uma excelente maneira de manter uma carteira de investimentos diversificada, com um custo baixo. Além disso, são ferramentas ideais para quem não tem paciência nem conhecimento para escolher os ativos que comporão suas carteiras.
Cuidado, apenas, com as taxas de administração, que muitas vezes são extorsivas. No caso dos fundos de ações, dê preferência aos ETFs, comprados pelo home broker, e com custos bastante inferiores aos fundos oferecidos por bancos.
Modelo de carteira elaborada para investidor iniciante
Apenas a título de exemplo, vamos montar uma carteira de investimentos elaborada a partir desses quatro princípios.
O primeiro passo é estabelecer uma carteira diversificada. Que tipos de ativos escolher?
Em primeiro lugar, escolha ativos com perfis de risco diferentes. Não adianta diversificar, por exemplo, escolhendo vários fundos de ações diferentes. Embora seja útil diversificar dentro de uma classe de ativos, também é importante diversificar com classes diferentes de ativos. Por exemplo, a carteira poderia ser composta da seguinte maneira:  renda fixa de curto prazo, renda fixa de longo prazo, ações e fundos de investimento imobiliário.
No início, é preferível que o investidor tenha por foco sua carteira de curto prazo – justamente para garantir a formação de um “colchão de segurança” para as emergências. Mais pra frente, com esse colchão de segurança formado, é possível começar com a diversificação.
Um exemplo de carteira que seguiria esses princípios é a seguinte:
carteira de investimentos
Como você pode observar, a carteira de investimentos é bastante equilibrada e tem liquidez bastante razoável.
Caso seja necessário obter recursos de emergência, 25% da carteira está em renda fixa de curto prazo, com baixa volatilidade, sendo que 10% está na poupança, investimento que tem liquidez imediata. Além disso, 10% está investido em debêntures, que são uma renda fixa de médio/longo prazo, e os restantes 65% estão em investimentos de longo prazo, o “motor” de rentabilidade da carteira ao longo dos anos.
Evidentemente, vários outros tipos de carteira poderiam ser construídos a partir dos princípios indicados, com muitas variações. O importante é manter a calma e construir uma carteira capaz de resistir a seus impulsos – o principal problema enfrentado por um investidor iniciante.