terça-feira, 15 de outubro de 2013

Bolsa de Valores

É possível viver e pagar todas as contas com os lucros da bolsa de valores?


Sim, é possível.
Mas… muito, muito difícil. Principalmente se você é day trader. O que é um day trader? Segundo definição da Investopedia, day trader é “um investidor que tenta lucrar fazendo rápidos movimentos diários. Um day trader frequentemente encerra todas as suas negociações antes que o mercado encerre suas operações no dia e não guarda nenhuma operação aberta de um dia para o outro. Alguns day traders usam alavancagem para aumentar os retornos gerados de pequenos movimentos no preço das ações”.
Dessa definição, podemos tirar duas conclusões: (1) o objetivo do day trader é lucrar constantemente, no dia-a-dia, e não no longo prazo. Evidentemente, quem consegue bons lucros no dia-a-dia, também conseguirá bons resultados no longo prazo; e (2) o objetivo é lucrar com a compra e venda de ações, e não com os dividendos gerados por elas, já que na maior parte do tempo o day trader não permanece com ações em sua carteira.
Mas será plausível que alguém consiga viver dos lucros do dia-a-dia na bolsa de valores?
Pra saber a resposta, precisamos fazer algumas contas a partir de algumas suposições hipotéticas. Acredito que a resposta à pergunta depende de duas variáveis importantes: o patrimônio do investidor e a lucratividade obtida por ele no mercado necessária para suprir as necessidades de sua família de acordo com a qualidade de vida que se deseja.
Mas sejamos humildes. Ninguém precisa viver com R$ 10 mil líquidos por mês, não é? Vamos lá… digamos que a família do nosso investidor tem necessidades básicas que totalizam R$ 5 mil por mês. Parece razoável? Então vamos em frente.
Bom, quanto ele precisaria ter para custear os R$ 5 mil, todo santo mês, com o dinheiro da bolsa de valores? Tudo depende da rentabilidade líquida obtida a cada mês. Se  investidor tiver R$ 50 mil de patrimônio, precisaria ter, todo mês, uma rentabilidade positiva de 10%. E isso só pra “pagar as contas”.
Sejamos mais “modestos”. Digamos que nosso heroico investidor não é tão competente assim e “só” consegue 1% de rentabilidade líquida ao mês, todo mês. Nesse caso, ele precisaria da “bagatela” de R$ 500 mil de patrimônio, e, de novo, apenas para “pagar as contas”.
Possível? É.
Provável? Não.
Quando você investe para o longo prazo, é provável obter rentabilidade líquida até superior a 1% ao mês, porque é possível aguardar o efeito avassalador dos juros compostos ao longo de 20, 30, 40 anos. Mas, quando se precisa do dinheiro para o curto prazo, você não tem o direito de esperar um, dois, três meses de queda na bolsa.

Pegue o ocorrido entre maio e outubro de 2008. Em 5 meses, o índice despencou uns 60%. Claro, o day trader retrucará esse comentário dizendo que sabe “ganhar na baixa”, operando alavancado, fazendo swing trade, apostando contra a ação, fazendo estudos mirabolantes com análise técnica. Beleza: aí, um belo dia, o cenário muda. Foi o que aconteceu em 2008. Os analistas técnicos estavam todos empolgados, dizendo que a bolsa iria a 9.000 pontos, quando ela estava em 30.000. Todo mundo apostava contra.
Mas, como o sr. Mercado não dá bola pro que ninguém pensa, o Ibovespa começou a subir naquele momento. Quem estava operando descoberto tomou um prejuízo estúpido, pois teve que cobrir a posição. Eu mesmo, que não conheço muita gente que investe em ações, vi pessoalmente dois casos de pessoas que perderam praticamente tudo o que tinham porque caíram na conversa de especular alavancados.
Voltando ao raciocínio: quem tem menos de R$ 500 mil não tem lá muitas chances de conseguir seus R$ 5 mil líquidos mensais na bolsa. E quanto seria razoável? Sinceramente… sem ganhar dividendos (lembre-se, o day trader de verdade passa pouquíssimo tempo com a ação na carteira e, por isso, ganha muito pouco com dividendos), só com muito, muito dinheiro. E isso, para fazer uma média constante razoável.
Eu diria que apenas quem tivesse mais do que R$ 1,5 ou R$ 2 milhões poderia esperar ter alguma chance de viver com esses R$ 5 mil exclusivamente do dinheiro da compra e venda de ações. Isso porque é inevitável ter prejuízo em um mês ou outro. Então, se em um mês o investidor tiver seus 10% de rentabilidade, ele terá que guardar esse dinheiro para os meses de vacas magras que ocorrerão, a fim de ter uma reserva.
O que realmente me indigna é que matérias como a que mencionei dão a entender que é tudo uma questão de opção pessoal. E ela é só um exemplo: se o Ibovespa continuar a subir, logo virão várias, não tenham dúvidas. Em minha curta carreira de investidor, já vi esse filme várias vezes.
A tese pressuposta nessas matérias é a de que basta alguém “escolher” largar o emprego, estudar e “viver da bolsa”. Não é assim: um pequeno investidor, a média dos assalariados, pode ser um estupendo day trader, mas dificilmente conseguirá acumular no curto prazo o montante necessário para realmente poder se dedicar a viver da compra e venda de ações. Não por incompetência, mas por falta de lastro. E, na boa, a média anual dos grandes investidores é de 20% ao ano, e você espera conseguir 10% ao mês?

Se você é um holder, pode esperar viver da bolsa… no futuro

Por outro lado, se você tem o longo prazo a seu favor, as chances são boas de “viver da bolsa”. Mas apenas no futuro. Com o tempo, o risco dos investimentos em ações diminui. Além disso, o investidor que adota a estratégia Buy and Hold tem os dividendos a seu favor. No início, eles representam muito pouco; mas, ao longo de 20, 30, 40 anos, podem se tornar a grande razão de uma rentabilidade absurda. A cada ano, receber 3% do portfólio em dividendos pode não parecer muito, mas em 10 anos, isso significa mais de 30% a mais de retorno – algo nada desprezível.
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Mas isso leva tempo. O grande problema das pessoas é o imediatismo. Levam ferro em um mês e já ficam desesperadas. O holder é como o boxeador Rocky Balboa, dos filmes do Stallone; apanha, apanha, apanha, mas resiste. Resiste porque sabe que na bolsa de valores, assim como no boxe, não necessariamente quem vence é o mais forte. Muitas vezes, quem ganha é quem tem mais resistência para resistir às pancadas, aproveitar as crises e atacar no momento certo.

Por O Pequeno Investidor

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