Para bilionário da Bovespa, qualquer um pode ficar rico com ações
Todos
os meses, o paulistano Luiz Barsi recebe milhões de reais em
dividendos pagos pelas empresas onde investe. Com mais de R$ 1 bilhão
na Bovespa, ele diz que qualquer um pode enriquecer com ações.
Basta comprar papéis baratos, negociados abaixo do valor
patrimonial, e esperar. No começo, será necessário ter paciência
para que a empresa comece a apresentar resultados melhores e
disciplina para aplicar capital todos os meses na bolsa. Mas chegará
um momento em que apenas o reinvestimento dos dividendos recebidos
será suficiente para que a pessoa enriqueça.
Vinda
de outra pessoa, a fórmula acima soaria como uma simplificação
banal da realidade. Mas o fato é que Barsi diz que foi de pobre a
bilionário fazendo apenas isso. O investidor morou em cortiço na
infância e engraxou sapatos para ajudar a mãe a pagar as contas
após a morte do pai. Tomou contato com o mercado financeiro na
década de 1960, começou a investir e não parou mais. O
enriquecimento não mudou seus hábitos. Com Warren Buffett, ele diz
ter aprendido a levar uma vida sem luxos. Barsi vai trabalhar de
metrô e costuma dirigir uma Chevrolet Zafira. Trabalha há 16 anos
num escritório sem decoração no centro de São Paulo, com móveis
antigos, TVs de tubo empilhadas e uma persiana que não funciona na
janela. Na entrevista a seguir, Barsi detalha sua estratégia e diz
por que considera um mau negócio empresas que não são negociadas
na bolsa, PGBL, VGBL, imóveis, renda fixa e caderneta de poupança:
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Luiz Barsi Filho: torço para que as ações caiam eu eu possa comprar papéis mais baratos (Rodrigo Paiva) |
Como
enriquecer na bolsa
O
melhor momento para entrar na bolsa é quando acontece uma crise
socioeconômica. Como tem muito incompetente neste País, crise não
falta. Em 2008, uma crise socioeconômica fez com que as ações
caíssem. Você acha isso ruim? Meus recursos vibraram porque eu pude
comprar ações por um ótimo valor E independente do momento de
entrada, é absolutamente impossível deixar de ganhar dinheiro no
mercado de valores se você respeitar três regras. É preciso
investir só o recurso que você não vai usar no curto ou médio
prazo. A segunda regra é nunca comprar uma dica. A definição
universal de investidor é aquele indivíduo que avalia um segmento
da economia, os fundamentos de uma empresa, o valor de uma ação e
os riscos. Já o investidor brasileiro é o especulador que recebeu
uma dica errada. Veja o monte de gente que comprou ações de
incorporadoras em 2008. O cara comprou Gafisa a R$ 22 e hoje vale R$
5. A dica virou zica. Só peça ajuda a alguém se você tem absoluta
certeza que ele é um vencedor na bolsa. A terceira regra é nunca
vender ações por necessidade. Além das três regras, ainda é
necessário ter disciplina e paciência. Quem faz isso fica rico.
Dividendos
para a aposentadoria
Eu
estimulo as pessoas a montar uma carteira previdenciária. Em 2008,
chegou uma senhora aqui que tinha recebido um dinheiro do seguro de
vida após a morte do marido. Ela disse que estava em dúvida entre
comprar o apartamento onde morava ou investir em ações para a
aposentadoria. Eu perguntei a ela se R$ 67 mil por mês de
aposentadoria estava bom. Ela arregalou os olhos. Eu disse que era
fácil conseguir isso,
era só comprar 1 milhão de ações da Eternit por R$ 3,8 milhões [preço da época]. Como a ação paga R$ 0,80 por ano em dividendos, com 1 milhão de ações ela receberia R$ 800 mil por ano ou R$ 67 mil por mês. Ela disse que não tinha tanto dinheiro. Eu disse para ela cortar um zero, que compasse 100 mil ações para receber R$ 80 mil em dividendos ao ano. Ela comprou ações da Eternit e começou a reinvestir na bolsa o que recebesse em dividendos. Com o que ela ganhou em dividendos e valorização dos papéis, hoje pode comprar todo o prédio de seis apartamentos onde mora. Não é preciso ter muito dinheiro. Comece pequeno, mas não pare. Vai chegar uma hora em que não será preciso colocar mais nada. Os próprios dividendos reinvestidos vão permitir que você continue enriquecendo.
era só comprar 1 milhão de ações da Eternit por R$ 3,8 milhões [preço da época]. Como a ação paga R$ 0,80 por ano em dividendos, com 1 milhão de ações ela receberia R$ 800 mil por ano ou R$ 67 mil por mês. Ela disse que não tinha tanto dinheiro. Eu disse para ela cortar um zero, que compasse 100 mil ações para receber R$ 80 mil em dividendos ao ano. Ela comprou ações da Eternit e começou a reinvestir na bolsa o que recebesse em dividendos. Com o que ela ganhou em dividendos e valorização dos papéis, hoje pode comprar todo o prédio de seis apartamentos onde mora. Não é preciso ter muito dinheiro. Comece pequeno, mas não pare. Vai chegar uma hora em que não será preciso colocar mais nada. Os próprios dividendos reinvestidos vão permitir que você continue enriquecendo.
Onde
investir
Gosto
de setores que a economia não vive sem eles. Eu tenho participações
na Klabin, Eletrobras, Eletropaulo, Transmissão Paulista, Suzano,
Ultrapar, Unipar, Eternit e Banco do Brasil porque essas empresas não
vão quebrar nunca. Se tivesse que investir em um negócio hoje,
escolheria algo em que o consumidor paga mesmo sem usar. Quando você
viaja e fica um mês fora de casa, mesmo assim você paga algo na
conta de luz. Banco é a mesma coisa. Você sempre paga tarifa. Antes
o banco lhe remunerava com um jurinho mesmo que você deixasse o
dinheiro na conta corrente. Hoje ele lhe cobra para ter uma conta
corrente. Ele ainda toma dinheiro dos clientes pagando 6% ao ano e
empresta a 200% no cartão de crédito. Outros setores que gosto são
telecomunicações e saneamento.
Como
empobrecer na bolsa
Há
três tipos de compradores que serão perdedores natos e nunca vão
enriquecer na bolsa: quem compra ações para especular, quem investe
em fundos passivos que apenas seguem o Ibovespa sem fazer uma análise
dos melhores papéis e quem usa opções ou contratos a termo para se
alavancar. Se alavancar, virou jogatina.
Não
compre na baixa e venda na alta
As
pessoas geralmente examinam as cotações das ações com a ideia de
comprar na baixa e vender na alta. Esse é um sentimento que o
cidadão deve exorcizar. Eu compro na baixa e rezo para que baixe
ainda mais. Quando você compra uma ação com o sentimento de
vendê-la com um sobrepreço, você torce para que ela suba. Mas
quando você tem um programa de 10 anos para enriquecer em que todos
os meses você vai comprando um pouquinho mais de ações, você vai
torcer para comprar mais caro? Não, né?
A
Bovespa não é arriscada
O
mercado de ações no Brasil não é de risco. Mercado de risco é
nos EUA ou na Europa. Quem compra a ação de uma empresa lá paga
muito mais do que o valor real, que pode ser representado pelo valor
patrimonial. O patrimônio líquido é resultante de bens, direitos,
valores e obrigações. Se você comprar um papel por menos ou muito
menos que o valor patrimonial, não tem risco.
Setor
elétrico é para comprar de pá
Recentemente
tivemos um evento no setor de energia que exemplifica as
oportunidades da Bovespa. A maioria das empresas do setor de energia
era negociada por mais do que o valor patrimonial, com exceção da
Eletrobras. Aí veio a presidente Dilma e baixou o preço da energia
sem consultar ninguém. Muitas empresas de energia passaram a ser
negociadas por bem menos que o valor patrimonial. Eu fui lá e
comprei. Ao invés de fugirem do setor elétrico como fizeram, todos
deveriam ter comprado mais. Eu comprei Eletropaulo e Eletrobras ON
por causa de fatores técnicos, dados históricos e um retorno em
dividendos mais interessante. Os outros fugiram por uma questão
psicológica. Teve aquele analista do Barclays que disse que o preço
justo da ação da Eletrobras era R$ 1. Eu estava rezando para que
fosse a R$ 2, mas infelizmente não foi. Quando chegou a R$ 6, eu e
um monte de gente compramos. Numa situação como essas, tem que ir
lá e comprar com a pá. Como toda a estrutura que possui, a
Eletrobras chegou a ter um valor de mercado de R$ 12 bilhões, sendo
que só a usina de Belo Monte vai custar R$ 25 bilhões. Então é
ridículo o preço que se atribui a ela.
Empresas
fora da bolsa
Não
invisto em empresas que não estão na bolsa. As empresas de capital
aberto não exigem que se faça gestão para ser sócio. Eu não
quero ser dono, eu quero ser um investidor parceiro. Uma vez me
perguntaram o que eu achava de um posto de gasolina como
investimento. Eu disse que era uma maravilha. Então me perguntaram
por que eu não tinha um. Eu disse que preferia ter 4% de 5 mil
postos de gasolina da Petróleo Ipiranga. Não tem dor de cabeça e
ninguém me assalta. Não exercito o sentimento de dono. Se o negócio
começa a ir mal, no mercado de valores você vende as ações e
parte para outra.
Não
invista em fundos de ações
Eu
não conheço ninguém que ficou rico comprando fundo. Nos fundos,
tem um sanguessuga permanente, que se chama taxa de administração,
taxa de performance, taxa de êxito, taxa de acerto. Não tiram só
do lucro, tiram do principal também. Você precisa ter um ganho
extraordinário para suportar esses gastos.
Os
lucros artificiais dos fundos
Um
dos caras de mercado mais incríveis que conheci foi o Edmundo
Valadão [um dos fundadores da Geração Futuro, morto em 2010]. Ele
comprava uns lixos do mercado, que ninguém queria e que não tinham
liquidez. Com algum dinheiro, ele conseguia comprar boa parte dos
papéis em circulação dessa empresa, elevando as cotações. Mas
era uma riqueza que não era verdadeira porque, se precisasse, ele
teria dificuldade em vender aquela posição sem derrubar as
cotações. Entre as empresas que ele valorizou, estão a Forjas
Taurus e a Guararapes. Ele ajudou a multiplicar a cotação da Forjas
Taurus por 15. Então imagine como o fundo dele subiu com isso? Mas
esse tipo de lucro só serve para ele captar mais dinheiro. Por que o
Bradesco e outros fundos nunca dão uma performance tão boa? Porque
lá tem comitê de administração e o gestor não consegue fazer
isso.
Warren
Buffett
Uma
das coisas que aprendi com o Warren Buffett é não ser um
“patrocinator”. As pessoas sentem necessidade de mostrar à
sociedade que têm grana. A primeira coisa que 99% das pessoas que
ganham dinheiro fazem é gastar, é jogar para fora a essência de
seus egos. Quem souber administrar esses egos, um dia vai ficar rico.
Cada vez que ganha dinheiro, o Buffett o administra com lógica,
competência e inteligência. Muitas pessoas não entendem o sentido
de ele ter uma montanha de dinheiro e morar há tantas décadas na
mesma casa. Mas se ele está bem naquela casa, por que ele precisa
comprar um palácio? Ele não compra um carro de US$ 500 mil porque,
para se locomover, não é necessário. O Buffett contempla a conta
bancária.
Para
se locomover, Zafira e metrô
Eu
podia comprar 10 Mercedes, uma de cada cor. Sei que posso qualquer
coisa, mas eu devo? Se acho uma imbecilidade, não faço. O carro em
que ando com mais regularidade é uma Zafira [carro da Chevrolet que
já saiu de linha]. Minha esposa recentemente me pediu uma SUV. Sabe
qual comprei? Um Chery Tiggo [carro chinês] de R$ 50 mil. É a
metade do preço de outros SUV, mas é um ótimo carro. Eu não tenho
vaidade. Para trabalhar, venho todos os dias de metrô. É mais
seguro. Eu vivo pensando em ações. Então às vezes estou no carro,
vem alguma coisa à cabeça e me distraio. Já cheguei a passar no
farol vermelho no cruzamento das avenidas Paulista e Brigadeiro Luís
Antônio. Como no metrô nunca vai acontecer isso, mudei meu hábito.
Gasto só com o que é necessário. Moro em uma excelente casa.
Quando quero ir a uma churrascaria, vou ao Fogo de Chão.
PGBL
e VGBL são conto do vigário
Com
um fundo de previdência, as pessoas não conseguem enriquecer. Você
já ouviu falar do Montepio da Família Militar? Era um fundo de
previdência que quebrou [em 1986, deixando milhares de poupadores na
mão]. Mesmo que não quebre, esses fundos tiram tanto em taxas
cobradas dos poupadores que não dá o resultado esperado. Você já
tentou comprar um PGBL ou VGBL? É um conto do vigário. Fiz um e
coloquei R$ 100 por mês durante cinco anos. Quando fui resgatar,
havia perdido 40%.
Renda
fixa
Se
você anotar todos seus gastos no começo e no final do ano e
comparar o aumento com o que a renda fixa lhe paga, vai ver que
sempre está perdendo poder aquisitivo. Aplicar na renda fixa rende
menos que sua inflação. Renda fixa é perda fixa. Eu aplicava nisso
quando dava 20% ao dia. Hoje vejo que a população ficou seduzida
pelos retornos daquele período de inflação galopante e juros
altos. O governo não incentivou a criação de investidores, criou
um bando de agiotas que emprestam dinheiro ao banco e recebem pouco.
Poupança
A
gente é muito atrasado na cultura de investimentos. O brasileiro foi
acarneirado. Nas décadas de 1960 e 1970, havia propagandas de bancos
na TV chamando as pessoas para investir na caderneta de poupança. Na
época, o próprio governo incentivava isso porque precisava desse
dinheiro para se financiar. As pessoas ainda acham que poupança é
garantido e não tem risco. Mas, se o banco quebrar, o cidadão só
recebe de volta R$ 250 mil. Como os mais jovens começaram a perceber
isso, a isca mudou. Agora a cama de gato é para os garotinhos. O
banco dá à criançada um bonequinho [os “poupançudos” da Caixa
Econômica Federal] se o pai abrir uma caderneta. Nunca ninguém diz
para você comprar ações e ficar rico.
Imóveis
Comprar
um apartamento na planta e vender depois de seis meses não é
investimento, é especulação. Se der sorte de comprar um imóvel e
pegar um ciclo bom da economia ou então for construída uma estação
de metrô ou um shopping na região, haverá uma valorização. Mas
também pode dar errado. Não tem liquidez e não dá para se
desfazer de só uma parte do investimento como na bolsa. Sem a
inflação, os imóveis perderam o charme. O Poder Judiciário demora
para ordenar o despejo de alguém que não paga aluguel. E as
prefeituras podem tirar receitas do dono do imóvel. Elas jogam o
valor venal do imóvel lá para cima para cobrar mais IPTU.
Por João Sandrini - Infomoney
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