sexta-feira, 3 de abril de 2015

A diferença entre traders e investidores no mercado de ações.

FÁBIO ALMEIDA O pequeno investidor.

Para quem não investe no mercado de ações, obter sucesso investindo nesses ativos é um mistério. Principalmente, porque parece ser um mercado onde só investe gente que tem que fica “antenada” o tempo todo na tela do computador, observando os movimentos dos preços. Mas essa é só parte da história: existem os traders e os investidores, e é importantíssimo saber a diferença antes de opinar ou entrar nesse mercado.

Traders: foco em produzir resultados no curto prazo, riscos maiores.

Benjamin Graham, um dos primeiros a examinar o mercado de ações a partir de uma perspectiva fundamentalista e conhecido como mentor de Warren Buffett, fazia uma distinção clara entre investidores e especuladores. De acordo com ele, o investidor busca aplicar seus recursos em investimentos que preservam o capital e prometem um retorno adequado. O resto é especular.

Perceba o seguinte: Graham não disse que especular não dá resultado. Só não é investir. Traders – ou especuladores – não aplicam em ativos que preservam o capital e prometem o retorno adequado. Seu foco é única e exclusivamente a rentabilidade no curto prazo. Mas, sendo este o foco, isso significa que o trader está sujeito a riscos que o investidor mais tradicional não está.

Por exemplo, o trader precisa ver resultado rápido. Muitas vezes, contudo, um investimento precisa de tempo para amadurecer e, mesmo que a hipótese do trader esteja certa, pode ser que o tempo esteja contra ele. O ativo precisaria de anos para dar o retorno procurado, mas o trader só tem semanas ou meses para manter o dinheiro investido.

Outro ponto a ser salientado é que a magnitude dos retornos procurados pelo trader é bem pequena. Uma operação bem sucedida, muitas vezes, traz retorno de 4 ou 5%. Esqueça aquela história de especuladores ganhando 1.000% em uma única operação. Acontece? Sim, mas em ocasiões muito específicas e tão improváveis que é até difícil teorizar. Na média, os bons traders conseguem retornos muito inferiores a esse. E mesmo assim, é preciso descontar as operações mal sucedidas, o que reduz o retorno para algo muito menor que os 4 ou 5%.

O trader, como mostra a imagem comum de quem aplica recursos no mercado de ações, é um sujeito que precisa estar ligado no mercado. Boa parte deles opera com base em gráficos diários e, por isso, precisam estar antenados com as mínimas flutuações. É bem verdade que também há traders que operam com fundamento em gráficos semanais ou mensais, mas em muitos casos não é o que acontece. É preciso estar atento. Além disso, como o trader precisa negociar com mais frequência, seus custos com corretagens e impostos tendem a ser maiores do que investidores que aplicam no mercado de ações com a perspectiva de investir.

Por conta desses fatores, não adoto essa perspectiva em minhas investidas no mercado de ações. Prefiro investir a especular.

Investidores: foco no longo prazo, minimização de riscos e custos

Investir, por sua vez, pressupõe encontrar ativos que prometam preservação do capital e um retorno adequado ao longo do tempo. Veja que são dois os requisitos: preservar e rentabilizar. Poupança, portanto, não é investimento, pois praticamente só preserva o capital, mas não traz uma remuneração suficiente para apresentar um retorno adequado no longo prazo.

Quem investe tem por foco o longo prazo. Não mede seu sucesso ou fracasso em semanas ou meses, mas em anos ou mesmo décadas. Por um lado, isso significa que eventuais erros de estratégia podem ser percebidos apenas após o decurso de alguns anos, o que é algo que pode ser considerado ruim. Afinal, erros de análise acontecem. Por outro lado, o foco no longo prazo também dá a serenidade de saber que ajustes podem ser feitos ao longo do tempo, acabando com a sensação de que se cometeu um “erro fatal”. Claro, traders também têm de adotar ferramentas de proteção para evitar perdas substanciais de patrimônio, mas o foco no longo prazo dá mais margem para erros que podem ser sanados ao longo do tempo.

Normalmente, investidores enxergam as empresas em que investem da maneira diferente dos traders. Para os traders, o que importa é o “papel”, o título que é negociado, e não a empresa que está por trás dele. Isso faz sentido, porque, no curto prazo, os preços são determinados por fatores alheios ao desempenho da empresa na economia real. O investidor, por outro lado, sabe que, no longo prazo, os preços vão acabar convergindo para o desempenho da companhia no “mundo real”.

É por isso que os investidores normalmente adotam uma abordagem conhecida como Buy and Hold. Quem investe em uma empresa com a pretensão de ser seu acionista compra as ações com o objetivo de segurá-las por um bom tempo. Por isso o nome da estratégia: Buy and Hold significa precisamente “comprar e segurar”. Claro, isso não significa que as empresas devem ser “seguradas” para sempre; é possível que haja motivos para vender as ações se a situação concreta mudar e a avaliação inicial não for mais válida.

Outro ponto positivo para o perfil “investidor” diz respeito ao fato de que existem várias maneiras de executá-lo. O investidor não precisa estar tão antenado assim nos seus investimentos – digo, a ponto de ter que examiná-los todos os dias. Quem faz o trabalho de casa antes de comprar seus ativos pode se dar o luxo de dar uma olhada uma vez por mês e ler os balanços das empresas em que investe. Mas não precisa ficar olhando a telinha do home broker alucinadamente, nem ficar traçando gráficos de curto e longo prazo.

O ponto importante aqui é o seguinte: você não precisa ser um profissional para se dar bem na bolsa se adotar a perspectiva de investidor. Mas, se você quiser ser um trader de sucesso, precisa ser profissional. Ou seja, tem que dedicar boa parte do seu dia (2, 3, 4 horas)  a analisar tecnicamente os ativos e a negociar.

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