quarta-feira, 27 de março de 2013

Operações de venda

O que são operações de venda e como operar vendido (Short)

Ao contrário do que muitos pensam, é possível ganhar com a queda da bolsa e essa modalidade de investimento está disponível a qualquer participante do mercado. Operações de venda são pouco entendidas e muito confundidas, principalmente por parte dos investidores iniciantes.

Para entender uma operação de venda é preciso se desvincular do tradicional raciocínio das operações de compra, que consistem em comprar algo por um determinado valor e vendê-lo por um valor maior, auferindo lucro.

Operações de venda são exatamente o contrário. Você vende algo que não tem, para comprar, ou pelo menos tentar comprar futuramente, por um preço menor. A diferença positiva esperada na operação é que será o lucro.

A grande dúvida nas operações vendidas é a respeito de como vender algo que ainda não possui, e a resposta é muito simples. Basta alugar! Isso mesmo, alugar. Toma-se emprestado algo que não possui para devolver futuramente, desde que as características entre o objeto alugado e o devolvido sejam idênticas. Nesse caso, as ações.

Imagine que você pegou emprestada uma bicicleta que vale R$1.000, e que após tê-la tomado emprestado você decidiu vendê-la pelos mesmos R$1.000, pois acreditava que com o breve lançamento de um novo modelo de bicicleta no mercado, a que você pegou emprestado deixaria de valer R$1.000 e passaria a valer menos que isso. Após três
semanas, já com o novo modelo no mercado, a mesma bicicleta que você havia vendido por R$1.000 estava valendo apenas R$500. Então, você compra essa mesma bicicleta e a devolve para o seu dono, o mesmo que lhe emprestou há três semanas. Pronto, você obteve R$500 de lucro, pois vendeu algo mais caro e comprou o mesmo objeto mais barato posteriormente, assim, ficando com a diferença positiva.

Na bolsa de valores é a mesma coisa, porém os objetos são valores mobiliários, como: ações, opções, títulos, índices, etc.

Como nada no mercado é de graça, obviamente você terá de pagar uma taxa pelo aluguel no caso das ações, e também terá de depositar uma margem em dinheiro ou em ativos como garantia de que terá como honrar a devolução do bem tomado. A taxa é livremente acordada entre os participantes do mercado e se pode consultá-la diretamente na sua corretora de valores, ou então ter uma idéia da média cobrada pelo mercado, consultando o site da CBLC.

A título de curiosidade, os termos oficiais para quem empresta e para quem pega emprestado as ações ou títulos são: doador (aquele que empresta) e tomador (aquele que toma emprestado).

Para consultar as taxas no site da CBLC (www.cblc.com.br) basta acessar o menu:Principais Consultas > Empréstimos de Ações > Empréstimos Registrados ou então acessar diretamente o endereço clicando aqui.

Riscos e Características
Diferentemente das operações de compra, onde o lucro máximo é ilimitado e o risco máximo é limitado ao valor total da compra, nas operações de venda é o oposto, o lucro máximo é limitado ao valor total vendido (descontadas as taxas e corretagem), mas o risco máximo é ilimitado.

Risco ilimitado implica em atenção redobrada a fatores como gerenciamento de risco e stops. Imagine vender algo que não possui por R$100 e depois de ter de comprar por R$1.000 para devolver. Não seria nada agradável, não é mesmo? Esse é o risco das operações de venda. Nelas pode se perder mais do que o patrimônio total investido, ou seja, em caso de prejuízo grande será necessário trazer dinheiro de fora para cobrir o estrago. Por isso, cuidado, estudo, gerenciamento de risco e stops são imprescindíveis.

Operações de venda também são conhecidas como operações short, significado de “curto” em inglês. Essa denominação vem do fato de operações de venda, em geral, não serem carregadas pelo mesmo prazo das operações de compra.

Numa operação de compra, teoricamente o investidor pode carregá-la por dias, meses ou até anos, por isso são chamadas de long, “longo” em inglês. Isso não significa que operações de venda também não possam ser carregadas, porém não é o que se nota no mercado de ações. Em geral, são operações mais rápidas, ou seja, de “tiro curto”, aluga-se o papel, vende-o, espera-se poucos dias para que o lucro venha e encerra-se a operação ou stopa-se em caso de prejuízo.

É muito importante frisar que o lucro numa operação de venda vem com a queda do papel e o prejuízo com a alta.

Taxa de aluguel e margem de garantia
Como já explicado anteriormente, nada é de graça no mercado. O doador de ações precisa ser remunerado por isso, e essa remuneração vem através da taxa de juros, que é anual e têm seu valor livremente acertado entre ambas as partes envolvidas na negociação.

Alguns home-brokers oferecem um sistema onde o próprio usuário pode verificar a quantidade de papéis disponíveis para aluguel, quais papéis são esses e quais as taxas que os doares estão pedindo para alugarem seus papéis. Também é possível saber quais as taxas praticadas no mercado, entrando em contato com sua corretora.

As taxas estão intimamente ligadas à liquidez das ações e são diretamente afetadas pela lei da oferta e procura. Quanto mais doadores quiserem alugar suas ações e quanto mais líquidas elas forem, menor será a taxa cobrada, afinal a oferta será muito grande no mercado. O contrário também é verdadeiro, pois quanto menos liquidas as ações e menos doadores quiserem disponibilizá-las, maiores serão as taxas, afinal, a oferta será muito pequena.

Taxas de papéis muito líquidos giram em torno de 0,5% a 1,5% ao ano e de papéis menos líquidos podem ultrapassar facilmente os 15% ou 20% ao ano, mas isso não significa que o doador irá receber essa taxa toda. Como já vimos, vendas são operações rápidas e em geral os tomadores devolvem as ações antes do prazo final do contrato, pagando apenas a taxa equivalente ao período que ficaram com os papéis.

Outro ponto importante é que caso o tomador queira alugar, por exemplo, 2.000 ações de uma determinada empresa, mas no momento do aluguel existam apenas dois doadores dispostos a alugar 1.000 papéis cada um, o primeiro cobrando uma taxa de 1% a.a. e o segundo uma taxa de 2%a.a., para conseguir os 2.000 papéis o tomador terá de alugar de ambos os doadores pagando ambas as taxas. Nesse caso, seu aluguel terá uma taxa média entre o 1% e os 2% pedidos pelos doadores, ou seja, 1,5% a.a.

Além das taxas cobradas pelo aluguel, também será exigido do tomador uma margem de garantia, que poderá ser tanto em dinheiro quanto em ações ou títulos e valores mobiliários credenciados a servirem de margem junto à CBLC. Essa margem é exigida como garantia de que o tomador estará apto a honrar seu compromisso perante o doador no momento do encerramento do contrato.

As margens podem variar de corretora para corretora e também dependem do perfil do cliente e de qual montante total ele tem disponível. Margens de 100% a 150% do valor alugado são práticas comuns no mercado, mas podem variar em decorrência de maior ou menor grau de risco no mercado financeiro, devido a crises, crashes, etc.

Algumas corretoras também permitem a venda para operações de day-trade sem que seja exigida margem adicional, porém o investidor terá que obrigatoriamente encerrar sua posição vendida até o final do dia. Caso isso não aconteça e o investidor pretenda dormir vendido, então, a corretora procederá com a chamada de margem normalmente.

Em geral, o uso da conta margem está vinculado ao montante total disponível na conta do cliente, podendo ser de 40% ou 50% do total investido, ou ainda outro valor específico. Consulte sua corretora e informe-se.

A venda na prática
Para encerrar, nada melhor que um exemplo prático. Acompanhe o gráfico a seguir da Petrobras (PETR4):

Operação vendida - Short

Ao atingir a zona de resistência na faixa de R$34 o papel forma um topo claro e inicia uma queda. Nesse ponto o investidor aluga o papel e o vende nessa zona. Nada impede que essa zona seja rompida e que o papel continue a subir, e é por isso que o stop (start) deve ser armado acima desse patamar, para limitar o risco. Mas não é isso que acontece e o papel continua a cair, formando uma nova linha de tendência de baixa (LTB), ilustrada pelo tracejado azul no gráfico. Durante essa queda o investidor pode ir ajustando o stop para baixo, como forma de proteção do lucro. Finalmente a LTB é rompida e nesse ponto o investidor finaliza sua venda na faixa dos R$21. Veja o resultado da operação supondo que o investidor tenha vendido 1.000 PETR4:

Início da venda: 1.000 x R$34 = R$34.000
Fim da venda (compra): 1.000 x R$21 = R$21.000
Lucro da operação: R$34.000 – R$21.000 = R$13.000 (38%)

Os valores são brutos, porém, na prática, ainda existem os custos com corretagem, taxa de aluguel e emolumentos, não deixe de levá-los em consideração ao fazer seus cálculos.

Pronto, agora você já sabe como ganhar dinheiro com a bolsa em queda, mas lembre-se que operar na ponta vendida exige um ótimo gerenciamento de risco, pois se trata de uma operação mais elaborada do que a simples compra de ações.

Por Investpedia

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